Sakuras e Risadas


Olá outra vez

Bem, para quem não tem dito nada até agora aqui vai um update, seguido de uma dica de ouro típica portuguesa para uma boa gargalhada com a malta estrangeira.

Acabou de ser aqui a época das sakuras, ou das cerejeiras em flor, e tenho a dizer que é uma coisa muito bonita que passa muito mais rápido do que queremos. Isto porque quando damos pela cidade está tudo cheio de flores, mas como Quioto tem alguma cor quando está sol (quando está nublado é muito cinzento, deve ser das núvens…), então nem damos por isso, a única coisa que começamos a reparar é que há cada vez mais branco na cidade, e algum cor-de-rosa, e algum vermelho por fim algum escarlate, e depois não conseguimos parar de ver flores para qualquer lado para que olhemos.

Só quando passamos esta última fase de percebermos que estamos diante de uma cidade em flor é que percebemos que estamos diante de um cenário muito muito bonito e que é raro mas típico japonês. Aliás, eu podia ficar aqui mais de 1000 palavras a descrever-vos como é que são as sakuras, mas vou-vos mandar uma fotografia que tirei outro dia a um casal que se encontrava numa zona da cidade que normalmente não tem nada de apelativo (mesmo), mas que durante as duas ou três semanas em que as árvores estão em flor tem este aspecto.

Gostei de ver isto sinceramente.

Depois tenho de falar da vida de cá. Estou cada vez a falar melhor japonês mas quanto mais falo e melhoro é que percebo que ainda falta tanto para atingir um nível decente. Ainda não tenho vocabulário suficiente para ter uma conversa melhor que o Zezé Camarinha a tentar falar inglês nem gramática suficiente para ser melhor que um papagaio, mas isto aos poucos vai lá e acabarei por conseguir falar um pouco melhor do que o que falo hoje em dia, dito a cada dia.

Mais coisas chatas sobre mim antes de vos dar a coisa boa deste email, que vem no fim =)

Estou a trabalhar em part-time enquanto faço a tese.

E não tenho um part-time. Tenho 3. Começo todos os part-times este mês de Maio enquanto faço a tese e estou mais feliz do que estava à espera. Isto porque vou fazer coisas muito diferentes.

Vou ser tour-guide em Kyoto, ou seja, vou ter de saber sobre a cidade o máximo que conseguir para responder a todas as perguntas de estrangeiros sem falhar um detalhe e vou dar tours de bicicleta principalmente, o que me vai encaixar bem como uma luva porque, não só faço exercício, vejo templos fantásticos, conheço malta de todos os lados e profissões, tiro-lhes todas as dúvidas e conto histórias do carago sobre a cidade histórica que foi mais de mil anos capital do Japão, e ainda recebo dinheiro por cima disso. Estou contente.

Mas os outros trabalhos não ficam nada atrás, isto porque um dos trabalhos é só falar em inglês com alunos japoneses. Aqui ninguém fala inglês e têm todos mais anos de inglês que eu tive de filosofia na escola, e no entanto estão ao mesmo nível que eu estou de filosofia na escola, tão perto de saberem só dizer “thank you” e “hello” como eu de saber que consigo pensar. Este trabalho também é fixe porque me dá para conhecer alunos locais da minha universidade e ajudá-los a fazer um teste que nem eu tenho, o TOEIC, que aqui é super importante para eles mas que penso que isso na europa não serve de muito.

E depois há o terceiro baito (part-time em japonês), em que basicamente vou fazer de bartender num ambiente quase todo em japonês mas em que vou aprender com um venezuelano a fazer os tais drinks. Estou contente com este também mas é só uma vez por semana, algo que é muito comum cá para alunos universitários enquanto estudam.

Finalmente, chega de parte chata e de mostrar que estou vivo, vamos “mazé” para o que encontrei que é muito engraçado fazer para a malta.

Desde os meus 10 ou 12 anos que o meu bolo de aniversário é sempre o mesmo: um salame de chocolate feito pela minha mãe ou irmão com a forma do número de anos que faço.

Não é de estranhar que quando estou a 11.000 km do salame de chocolate mais próximo de mim, fique com saudades dele. Por isso outro dia liguei à minha mãe e pedi-lhe para ela me dar a receita para o fazer cá. A receita veio-se a mostrar muito mais fácil do que eu estava à espera:
– 1 ovo
– 100g de margarina,
– 100g de chocolate em pó,
– 200g de bolacha esmagada.

É só isto, muito fácil e, caso seja preciso fazer salame para mais gente então é só duplicar estas quantidades para o dobro, para o triplo e por aí adiante.

Vamos então fazer salame aqui no Japão.

Compram-se os ingredientes todos, mete-se tudo menos a bolacha num recipiente, mexe-se tudo e só depois da pasta estar mais ou menos homogénea mete-se a bolacha já partida. Muito contente depois de tudo feito e salame completo, agora tenho de meter o salame em papel de alumínio ou em papel aderente. Vou pelo aderente

Agora vem a melhor parte, porque quando fui para meter o salame na forma, lembrei-me que aquilo parecia uma poia real, e depois uma luz fez-se na minha cabeça, porque é que eu não crio aqui um choque cultural enorme e tento que a malta goste disto? Epa isso é que era fixe…

E pronto, outro dia num jantar no meu dormitório virei-me para toda a gente e disse que tinha feito sobremesa. Perguntei:
– Hey malta, eu fiz uma sobremesa, quem quer provar?
– Eu, eu, eu, eu! – dizem todos em uníssono
– É um bolo, gostam de bolo?
– Claro! Quem é que não gosta de bolo? – dizem todos em uníssono e cada vez mais felizes
– Fixe, gostam de chocolate?
– Eish!!! Nice muito nice mais nice que o mais nice mais nice de todos!! – dizem todos outra vez, agora com as espectativas acima do Everest.

Agora é que vem a parte fixe, quando eu tiro o bolo do congelador e o meto na mesa é que se deve contratar fotógrafos para tirar fotografias ou a filmar a reacção das pessoas. Isto é o que lhes aparece à frente:

Para todos os que gostam do Ínstómâno ou dessas redes sociais em que se filma muita coisa, esta reacção está no topo das reacções em que espectativas ficam despedaçadas em mil cacos com um simples olhar.
O monte de vezes que a malta depois me diz:
– “Eu. Não. Vou. Comer. Esse. Bolo.” – é um momento tão bom como aquele em que a malta simplesmente o prova e diz:
– “Eu. Não. Vou. Parar. De. Comer. Este. Bolo.” – Vale a pena para quem tem amigos mais novos, não sei se vale a pena fazer isto em casa de avós de amigos ou mesmo pessoas que não tenham um sentido de humor muito forte.

No entanto, não me responsabilizo pelos danos morais que esta pequena partida possa implicar caso a coisa dê para o torto =)

Penso que por agora é tudo, não falei muito do Japão neste email mas fica para o próximo, que não vai ser mandado com tanta demora como este foi.

Até já e diverte-te, seja o que quer que estejas a fazer.


Did you like it ?

Buy me a TeaBuy me a Tea

Newsletter

* indicates required