Do Japão à Francia Pelo Outro Lado


Bem, estou de volta, desta vez noutro lado do mundo.

Aviso já que esta carta vai ter mais notícias sobre mim que outra coisa, por isso e, caso já saibam o que andei a fazer durante este tempo, então não vale muito a pena ler, eu é que aviso =) mas fora isso, continuemos…

Vim então do Japão, onde vivi 1 ano e não consegui encontrar trabalho para ficar em definitivo, por isso acabei por conseguir trabalho em Paris. Mas Nabais, Paris a capital de França? Sim =). Sei que as cidades são muito diferentes em muita coisa mas ao menos agora estou a trabalhar e a gostar muito do que estou a fazer de momento porque não só está a ser desafiante mas ao mesmo tempo estou a aprender bastante no trabalho (inclusivamente uma língua) já que não me lembrava muito do francês a que fui imposto no 7o ano.

Mas um salto desde Kyoto a Paris é grande e portanto vou dar uma visão geral do que se passou pelo meio.

Voltamos então para trás tipo flashback para Kyoto, onde um portuga está a dar tours a turistas sobre o Japão em pleno verão e ao mesmo tempo está a fazer a tese. Com o fim do ano lectivo e com o fim do dormitório, tentei extender o part-time ao máximo, para depois aproveitar e descer para o sul para tentar apanhar umas ondas com o meu tutor japonês, o pai dele e uns amigos de escola do pai dele. Fez-me lembrar do grupo da Ericeira e estive contente a surfar e a acampar no chão de uma cabana que a malta alugou, tipo surftrip japonesa.

A malta não tinha nem perto do nível de surf que vejo na Ericeira mas gostei do facto de que só dava para surfar na tempestade, o que significava que: estavamos dentro de água, depois começava a trovejar e aí saía tudo de dentro de água. Quando passasse a tempestade, voltavam as pessoas lá para dentro de água outra vez, até que depois voltavam os trovões e obrigava outra vez toda a gente a sair de água até que eles passassem, e por aí adiante =)

Depois do surf e com o Japão a acabar, fiquei um pouco com saudades de casa e ao mesmo tempo triste por ter de ir embora. Aliás, tinha sido um ano tão bom e tão enriquecedor para mim. Aprendi o Japonês ao ponto de me safar perfeitamente na rua e a ter uma conversa em Japonês já que ninguém lá fala outra língua, e ao mesmo tempo tinha de me ir embora. Mas teve de ser, e o que tem de ser tem muita força, por isso, e já que estava do outro lado do mundo, aproveitei e vim pelo outro lado e assim dar uma volta ao mundo.

Próxima paragem: Austrália, mais precisamente Sydney, mas com uma escala em Singapura. Eu que tinha ouvido não sei onde que para entrar na Austrália não era preciso visto nenhum, fui para o aeroporto à campeão. Até que a senhora do check-in me pergunta: “você tem visto?”, e eu: “qual visto? eu não preciso de visto nenhum”, e ela “precisa sim…” e eu “mas que visto? claro que não preciso…”, até que depois fui ver e precisava mesmo de um visto, isto a 1 hora do avião descolar. A chefe dela disse para ela me fazer o check-in até Singapura, coisa que ela acabou por fazer. Fui ver o visto à net, e dizia que demorava 1 dia útil a fazer. Mas eu só tinha 6 horas para poder depois fazer o check-in em Singapura… Quando estava prestes a fazer o visto, descubro que estava a assinar pelos países de outra categoria, por isso fui ver o para Portugal e vejo mínimo 3 a 4 dias úteis… Pronto, pensei, estou na m**… Mas lá está a santa mãe para salvar e liguei e pedi para ela ligar à embaixada, o que ela fez, e lá conseguiu encontrar o link e fez assim o visto online (que afinal era na hora…) e mandou-mo por email. Com muito mais sorte que juízo cheguei à Austrália e passei em Sydney uns dias maravilhosos em que andei a pé, surfei e andei de bicicleta bem mais do que estava à espera, sempre na muito boa companhia do meu amigo e hóspede Dário que está lá a viver ao pé da praia =).

A malta e o ambiente na Austrália fez-me lembrar muito o ambiente de Portugal por ser tudo tão descontraído.

Depois de Sydney acabei por ir para Hobart que é na Tasmânia, onde fui muito bem recebido por pessoas que tinha conhecido nos tours em Kyoto. Fiquei em casa deles e foram impecáveis comigo. Desde ir passear o cão, fazer gelado de morango da minha avó (os morangos eram a única coisa barata naquela terra) e ver uma máquina a cagar (é verdade, pesquisem por MONA Hobart e admirem o melhor museu ao qual fui até agora), os meus dias lá foram muito bons.

Acabei por só ver cangurus e outros bichos na Tasmânia já que não os vi em Sydney mas tenho provas =) Os koalas foram fixes, têm um estilo enorme mesmo a dormir esses bichos.

Gostei tanto da malta de lá e de tudo na Tasmânia que ainda acabei por tentar mudar o meu voo para só ir 1 ou 2 dias depois de Hobart para a Nova Zelândia porque ia haver um festival enorme no sítio mais remoto possível da Austrália, tudo organizado por uma das maiores rádios australiana em que a ideia original para o festival ser feito naquele sítio remoto foi a seguinte questão: “onde é que vocês nunca pensaram que viriam a ver um festival acontecer?”. E por isso mesmo escolheram o sítio mais escondido, que era literalmente no meio do nada. Sei disto porque ainda acabei acabei por ir 4 horas de carro para cima com malta local num dia para depois no dia seguinte de manhãzinha apanhar o autocarro mais confuso de sempre, em que vinha sozinho e o motorista ainda parou 3 vezes para ir tomar café e uma cerveja com malta amiga dele que tinha entrado numa estação depois da minha. Ainda estava preocupado em apanhar o avião mas tudo correu bem.

Cheguei então à Nova Zelândia (onde não é preciso visto (eu vi, em 2018…)), o que significa que agora estava nos antípodas, ou seja, o lugar mais longe possível de casa.

Cheguei à noite a Auckland enquanto estava toda a gente na noite a divertir-se, por isso não tive outra hipótese senão ter de ficar um tempo à espera à porta do hostel. Lá consegui entrar, fui dormir e no dia seguinte aproveitei para ver a cidade mas ela não é assim tão bonita, por isso no 2º dia aproveitei para ir a uma ilha lá ao lado que descobri que tinha casas à venda por 27 milhões de dólares… e a zona era linda mas o trilho era muito perigoso já que estava escorregadio e estava meio a chover. Agora, quem é que lá estava sozinho no meio do trilho inclinado, lamacento e no meio da falésia? Só eu, claro =) Vi paisagens muito bonitas mas só nessa ilha, porque não só não tinha muito tempo na Nova Zelândia como só podia ficar na ilha norte e ainda pior: descobri que tudo era muito longe e muito caro, por isso e porque não queria gastar tanto dinheiro que me tinha custado tanto suor a ganhar no Japão (era Verão).

Acabei por não fazer tudo o que queria (também por ser tudo tão longe) mas aproveitei para conhecer a cidade e observar como são as pessoas lá, que é uma coisa que me interessa sempre e que é o que eu gosto de ver quando viajo já que penso que não tenho de ver tudo em todo o lado para me divertir.

Voltando então para mais perto da família, apanhei um voo a partir da Nova Zelândia e que fazia escala em Buenos Aires, mas esse voo teve uma particularidade muito grande, porque eu saí no dia 5 por volta das 8 da noite da Nova Zelândia e cheguei no dia 5, por volta das 5 da tarde! Isto quer dizer que andei para trás no tempo pois passei de GMT+11 para GMT-3, o que fez com que o calendário do Google me dissesse que tinha de apanhar o voo de Buenos Aires quando eu ainda nem tinha saído da Nova Zelândia =)

Escala então de Buenos Aires para o maravilhoso Brasil, mais nomeadamente o Rio de Janeiro por quem tenho uma paixão enorme. Não só gosto da cidade em si mas de tudo o que existe dentro dela e muito mais. Fiquei 2 semanas no Rio onde tive um tempo maravilhoso e de que não trocava por nada deste mundo. Nem mesmo aquela vez em que fui com a Tinae subir o morro dos dois irmãos. Subir os 2 irmãos foi das primeiras vezes que subi à favela (o trilho só começa lá em cima na favela).

Tive de apanhar o Uber para a parte de baixo da favela, depois apanhar um moto-taxi para a entrada do trilho (no cimo da favela), e só depois é que subo a pé até ao cume do morro. Quando estava a subir a favela de moto-taxi começo a ver policias tipo o BOPE às carradas. Perguntei a um polícia o que é que aquilo era, o polícia disse-me que não se passava nada, que era basicamente uma inspeção de rotina (ou rótjinêira, como eles dizem no brasil). Pensei então: “Boa, não há guerra”, sendo assim vamos então continuar a caminhada. Para entrarmos no trilho temos de passar por um campo de futebol em que estão um monte de putos a jogar, passar uma vedação e depois de 3 minutos de entrar no trilho de modo a subir o morro aparece-me um gajo de chinelos, calçoes, uma tshirt e uma metralhadora gigante (como se não fosse nada). Eu que não sabia mesmo o que havia de fazer nessa altura, olhei para ele e disse: “Bom dia”, e ele disse-me “Bom dia também pra você”. E pronto, continuei o meu caminho enquanto ia pensando: “opa o Rio é pesado, a favela deve ser sempre assim”. Depois ando mais uns 50 metros e vejo mais um grupo de cerca de 8 moços, em que todos tinham chinelos, calções, uma tshirt e 4 deles tinham kalashnikovs. Pensei: “opa lindo, isto não é só um gajo, isto é comum”, mas ao mesmo tempo pensei que por ser um grupo de pessoas tão grande e com não muito bom aspecto, nos podia assaltar. O que faço? Digo outra vez “Bom dia” ao passar por eles, desta vez com o coro da Tinae, ao que nos respondem: “boa dia, boa trilha”. Muito simpáticos esses caras com metralhadoras =) Depois, mais 50 metros e mais um gajo que estava sentado no trilho a olhar para o telemóvel e com uma AK47 (ou seja, outra kalashnikov) atravessada no colo e auriculares no ouvido, como se não fosse nada… Também me disse bom dia, depois mais uns passos e mais um grupo de 8 que nos cumprimenta e deseja um bom percurso, e ainda disse que podíamos subir sem problema. Basicamente isto tudo depois fez-me sentido, enquanto a policia revistava a favela, os traficantes ficaram escondidos no trilho, muito bem armados e para nós muito simpáticos. Mas o coração bateu rápido por ver uns gajos de chinelos como se não fosse nada armados como militares mesmo à entrada do trilho (ou seja, não muito escondidos) e eu a pensar, se a polícia vem aqui ao trilho, eles começam aos tiros, mas pronto, foi uma boa experiência porque tudo correu bem no fim de contas. =)

Depois de mais histórias boas, maravilhosas e de muito tempo bom passado, tive de deixar o Brasil. De coração ainda mais partido por ter tido um tempo maravilhoso numa das melhores companhias do mundo e ter de ir embora, vim para Portugal onde fui outra vez muito bem recebido por todos os meus amigos e família que não via à mais de um ano.

Directo ao casamento da Jackie encontrei um monte de amigos, maioritariamente da Ericeira e arredores. Foi bom rever toda a gente. Depois, como a febre do casamento é grande, no fim-de-semana seguinte tive logo outro casamento, desta vez da Bea e do Rodrigo =) Ver mais amigos, desta vez mais do Técnico e mais comer e beber bem em boa companhia enquanto celebramos todos juntos l’amour dos nossos amigos. Vale sempre a pena e é tempo só ganho =)

E pronto, depois desta festa toda vem a parte chata, em que eu tive de acabar a tese. Já tinha apresentado um paper no Japão e tive de o estender para caber numa tese com os critérios do Técnico. Tive quase 1 mês um pouco fechado em casa e a acabar o documento que já tinha começado no Japão. Desde juntar todos os dados, explicar todas as infinitas imagens que tinha na tese e fazer suas conclusões. Foi algo de que me custou mas depois de entregar e apresentar senti um alívio bom por não ter de pensar mais nisso por uns tempos (esperemos que para sempre) =)

E foi então depois de apresentar a tese que tive uma entrevista para vir para França fazer programação. Aceitei o desafio e apesar de não saber Francês assim tão bem decidi vir para cá (estou a escrever de França) =)

No entanto ainda fiquei um tempo entre a tese e vir para França a ajudar o meu pai na Ericeira. Estive a ajudar a rever os sistemas informáticos da Quinta dos Raposeiros, a fazer o site e a gerir como havíamos de fazer o sistema de reservas entre os canais todos de vendas =) foi bom porque sinto que ajudei =). Quem quiser ver o site pode ver no link quintaraposeiros.com, está simpático o site como está agora, que conta com a minha ajuda =)

E pronto, depois da Ericeira e Lisboa apareceu o dia de vir para França. Começava a trabalhar no dia 10 de Dezembro (logo no dia de anos do meu pai), por isso o que fiz? Fui para o Rio de Janeiro de novo 4 dias para um merecido até já.

Depois do Rio: voltar a Lisboa. Uma despedida e um novo capítulo novo estaria prestes a começar. Olá França e ao meu novo estatuto de “wanabee avec”. =)

Agora estou cá à 1 mês e meio e estou a gostar imenso, mas ao mesmo tempo está a ser bastante desafiante. O meu Francês evoluiu muito mesmo. Desde vocabulário, gramática e compreensão. Nada melhor que estar envolto num mundo onde ninguém fala outra língua. O meu conhecimento sobre seguros também aumentou muito e a minha capacidade de programação igualmente. =)

Agora como estou noutro país e noutra cultura diferente da minha (apesar de haver muitos portugueses cá), já posso começar a escrever uns textos sobre a vida de cá. Não é tão diferente como no Japão nem tão estranho a tantas pessoas, mas ao mesmo tempo há sempre coisas engraçadas para descobrir, e para isso estou cá eu para ir escrevendo =)

Por isso (e parabéns ao chegar até aqui abaixo no texto), obrigado =)

Sendo assim, os próximos textos serão um pouco melhores e possivelmente mais divertidos,

Até lá, até já =)

Joao Nabais


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