Bom dia Futuro


Bom dia,

Hoje tenho um mail um pouco diferente porque vou dar uma sugestão para ter uma boa recordação destes tempos de incerteza e para muitos tristeza que estamos a passar.

Digo isto porque apesar de ser conhecida por ser um pouco louca, a ideia de uma pessoa falar sozinha pode ser até bastante enriquecedora e interessante e mesmo por vezes uma maneira de reflexão para consigo mesma.

E não estou a falar de ir a andar distraídamente e a murmurar coisas que me vêem à cabeça enquanto passeio, mas sim do meu “eu” presente a falar para o meu “eu” futuro. E mais tarde no futuro, o meu “eu” presente receber uma mensagem do meu “eu” passado a contar o que o “eu” passado pensava do “eu” futuro.

(eu sei, meio esquisito mas já lá vamos)

Em algumas entrevistas de trabalho, há uma pergunta engraçada à qual vou citar: “onde se vê daqui a 5 anos?”. É claro que quando estamos sobre pressão à frente de uma pessoa provavelmente desconhecida não vamos contar tudo sobre tudo, ou então vamos adaptar o discurso à pessoa que está à nossa frente (não vou falar de amor ao entrevistador), mas quando estamos a falar connosco não precisamos de esconder nada. Nós sabemos tudo sobre nós, conhecemo-nos melhor que ninguém e por isso temos todo o tempo do mundo para dar a resposta mais honesta possível.

O que sugiro então é o seguinte, responder a esta questão (a dos 5 anos), mas olhar para o entrevistador e tentar ver o nosso “eu” futuro. E receber a resposta desta entrevista daqui a 1/2/5/x anos.

Estou a falar de uma carta para si mesmo no futuro. Quem nunca escreveu uma carta destas não sabe a surpresa que é daqui a x tempo (1, 2, 5 anos, ou até mais), receber um email/carta que começa por: “bom dia eu, sou eu que falo, tu de há 1 ano atrás”.

E é aqui que entra a entrevista chata dos 5 anos. Peço para fazer uma lista em que basicamente aparecem os temas de qualquer horóscopo: amor, carreira/trabalho, vida, saúde, objectivos, etc, e depois se faça o seguinte:

“espero que daqui a x anos, no que toca à/ao “ + tópico + “eu esteja/seja/tenha feito/etc etc”

E depois é continuar o texto com o que estiver na cabeça.

Agora, não digo para tentar adivinhar o futuro, porque isso é coisa que não dá para fazer por o futuro ser, bem… o futuro. Peço é para se olhar para hoje, sim hoje, e escrever como é que o “eu” de hoje gostava que fosse/estivesse o “eu” do futuro. Não interessa a disposição de hoje, quer se esteja triste ou contente, é sempre uma surpresa amanhã (ou daqui a x anos) receber uma carta. E quando digo uma carta, digo qualquer carta, e especialmente se tivermos sido nós a escrevê-la.

Este exercício de auto-reflexão não tem de ser sério também, e caso não se saiba onde é que se gostava de estar daqui a x anos, também não há problema, o importante é tentar dizer qualquer coisa a si próprio no futuro e mais tarde ter algo com o que comparar as situações de onde estamos e onde nos imaginámos no passado que iamos estar.

Digo isto porque a vida acontece, e muitas vezes muita coisa mexe. Quem é mais novo deve ter previsões mais erradas que quem passou por mais privameras, mas também pessoas com mais anos de vida podem verificar que não estão nem perto de onde estavam à espera de estar, até porque os tempos estão sempre a mudar, e hoje os 30 anos são os novos 20, os 40 os novos 30 e por aí adiante. Mas mais importante que isso é o exercício de reflexão que se pode ter ao comparar as situações.

Pelo que reparei ao falar com algumas pessoas que já escreveram para si mesmas, notei que há 2 tipos de pessoas:

As que fazem a sua vida a pensar na carta que se auto-enviaram, e mantêm como guidelines o que escreveram para se lembrarem do futuro, e há as outras pessoas (como eu por exemplo), que escrevem a carta e que, passadas 2 semanas já se esqueceram que escreveram a carta e para que data enviaram.

Mas uma coisa que sei é que (caso não tenham metido a data de receber na agenda (e por favor não fazer isso)) a surpresa de receber uma carta de si mesmo é uma delícia tão grande como de encontrar um álbum perdido de fotografias antigas =)

Hoje em dia, com as novas tecnologias, uma carta quer dizer um email, e para isso há o seguinte site que permite fazer isto: futureme.org (é fácil, basta clicar, escrever e enviar), no entanto acredito que os correios tenham um serviço que faça também entregas numa determinada data e, se não fizerem então há sempre a opção de pedir a um familiar ou amigo para guardar a carta e dar a carta num dia escolhido.

E pronto, era esta a sugestão de uma boa surpresa futura, mas se interessar ler uma reflexão que eu tive numa das minhas cartas basta continuar a ler =)

Para mim, as cartas foram sempre uma chapada de realidade que nem sempre foram fáceis, mas sempre criativas, isto porque descobri que a realidade consegue ser muito mais criativa do que a minha imaginação.

E uma outra coisa que reparei foi que errei veememente em quase todas as projecções que fiz para o futuro. Não que seja mau ou que não tivesse em conta o que escrevi, mas sim porque fui vivendo cada dia como sempre fiz, e fui aproveitando uma oportunidade aqui ou ali que iam tornando as projecções cada vez mais erradas, mas que quase sempre me deixaram um pouco mais feliz por vezes por nenhuma razão aparente ou por simples mudança.

Agora, acredito que isto aconteça com mais gente, mas também notei que algumas vezes onde gostava de estar também era uma situação onde provavelmente estaria melhor de uma situação equivalente que onde estou agora. E para essas vezes reparei que, se estou bem onde estou no futuro, óptimo; se fiz tudo o que queria fazer até chegar ao futuro da carta ou uma situação boa equivalente, melhor ainda; mas se fiquei para trás ou parei por alguma razão e deixei que o “eu” presente deixasse surpresas que não favorecessem o “eu” futuro, então que nessas alturas é tempo de pensar melhor e olhar para todas as minhas acções como estando a influenciar o “eu” futuro.

Um exemplo é o facto de, se eu hoje deixar os pratos para lavar porque a minha paciência não vai para além daqueles 20 segundos ou 2 minutos da minha vida, eu basicamente estou a dizer ao meu “eu” futuro: olha, vais de ser tu que vais ter de lavar os pratos, isto porque eu não quis/pude fazer, desculpa (isto é, a menos que encontre alguém de outro para fazer os pratos (ou a máquina ajude)).

E digo isto mesmo para mim que por vezes (mais que as que gostaria) me acontece o mesmo e muitas vezes acabo por deixar para amanhã o que podia fazer hoje, e isso depois reflecte-se quando olho para onde gostaría de estar e onde estou caso o que escrevi há x tempo era mais apelativo que a realidade do tempo em que li a carta. E não quero dizer com isto que me sinta mal nem arrependido, simplesmente quero dizer que reparei nisto, e só o facto de reparar naquilo que acho que pode ser um defeito meu pode-me ajudar depois a passar por cima dele.

Por isto também que a carta pode ser boa e eu recomendar a experiência, por por vezes me fazer lembrar ou cair na realidade ao receber e ler um texto que escrevi no passado direccionado a mim próprio.

Espero que esteja tudo bem e com a família e até ouvir de ti mais uma vez,

Continuo o mesmo,

João Nabais


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